Formas e (de)formas do fazer política: uma questão de cidadania


Antonio Iramar Miranda Barros 
Professor e Historiador 
iramarmiranda@hotmail.com 

De forma inconteste (cláusula pétrea), a Constituição Brasileira nos garante um Estado laico e livre, onde a liberdade de culto, expressão e ideologia são verdadeiras marcas de uma “Constituição Cidadã”. Com a premissa de que todo poder emana do povo, as vontades populares devem ser respeitadas, consequentemente, colocadas em prática, portanto, em um sistema representativo e democrático, entende-se que a nação como um todo está coberta na defesa de seus direitos, com representantes que a partir de uma visão macro, entendem os anseios populares e dirimem conflitos, sempre pensando no bem-comum, ou seja, com a crença de que o bem social e coletivo deve sobrepor sobre a vontade particular. 



O pleito eleitoral deve ser comemorado como a festa da democracia, onde nas ágoras televisivas e radiofônicas, redes sociais, espaços públicos ou mesmo no velho boca a boca, ideias devem ser discutidas, planos de governo devem ser debatidos, opiniões devem ser formadas. 

A escolha dos representantes deve partir de uma análise conjuntural e objetiva, consequentemente, respeitando a vontade da maioria. Ao fim das escolhas, o agraciado com a maioria dos sufrágios, deve esquecer as divergências políticas e conceituais, colocando-se como funcionário público número um nas diferentes esferas do poder político (federal, estadual ou municipal), portanto, funcionário de todos. Assim é (ou deveria ser) a democracia. 

O Brasil, conhecido geograficamente como país continental, tem em suas diferentes regiões, uma pluralidade cultural que se difere da maioria dos outros países. Em Estados territorialmente pequenos, podemos perceber falas, religiões, conceitos, que muito se distanciam do imaginário que fazemos sobre aqueles espaços, pois conhecemos apenas parte dele, e desse micro conhecido, fazemos a ideia de como seria o todo. Em nossas cidades, essa ideia também não se diferencia, pois conhecemos apenas parte dela, ou apenas, as que nos interessam. 

No que se refere à política, tomamos um destino que deveria ser analisado com maior atenção. Diferente do que fora inicialmente exposto, estamos envoltos em uma realidade excludente, onde grupos fechados tentam fazer prevalecer seus pensamentos e direcionando as discussões a partir de seus interesses, de suas ideias. 

Minimizar uma escolha a partir de projetos pessoais ou defesa de pensamentos simplistas, explorando uma realidade construída historicamente, seja ela qual for, e apresentando respostas rápidas e prontas para a resolutiva dos problemas, desvaloriza o debate e deixa a população sem muitas opções e a mercê das vontades de poucos. Isso não é democracia. 

A tentativa de manutenção do status quo já começa em nossas cidades e a explicita manifestação de defesa de grupos, e não de ideias, se mostra como uma realidade. Antes se defendia que essa era uma característica principalmente das cidades interioranas, entretanto, com a aproximação virtual das diferentes regiões, percebe-se claramente que no Brasil, essa é uma situação geral. 

No Congresso Nacional temos divisões claras em diferentes setores, ou seja: Bancada da Bala, Bancada Evangélica, Bancada Rural, entre outras e quando não tinha mais nomenclatura para se colocar em bancas, arranjaram uma tal Bancada das Minorias. Dessa forma, a segregação se mostra já em nossos representantes, que se unem em prol de interesses próprios, esquecendo que aqueles que os elegeram estão aquém desse tipo de discussão. Dividir nossa representação em grupos reflete na segregação de nossa sociedade, que se vê acuada e não representada. 

Teoricamente, quando escolhemos nossos representantes, nos espelhamos neles e nos reconhecemos neles, ou ao menos assim deveria ser. Se partirmos para o campo das ideias, essa assertiva se justifica, entretanto, ainda temos vícios eleitoreiros que precisam ser trabalhados, a partir de um processo de conscientização social. 

Quem é meu prefeito, governador ou presidente? O que eles pensam, defendem ou mobilizam? Facilitando a questão, quem os rodeia ou os representa? Me reconheço efetivamente em meus escolhidos? Seus ministros comungam com o bem social e conhecem a realidade que me norteia, ou mesmo a realidade posterior aos óculos escuros que os distanciam da real vivência do cidadão dito comum? 

Não podemos nos acomodar em nossas escolhas. Sabemos que é bem mais fácil e prático apenas aceitar as situações impostas, entretanto, que futuro queremos para nós e nossos filhos? A política e nossas escolhas terão reflexo direto em nossas vidas. Temos que ser egoístas nesse sentido e termos nossas próprias ideias, analisando as diferentes possibilidades, escolhendo quem realmente nos representa e se preocupa com a coletividade. 

Não podemos nos conformar em sermos apenas números fechados em boiadas e vendidos em manadas para políticos inescrupulosos que nada pensam em relação ao bem comum, mas sim em seus próprios benefícios e projetos. 

Dizer não à manutenção do status quo é uma forma de resistência. Escolher diferente do que nos é imposto é uma forma de libertação, mas principalmente, fazer valer nossas vontades, é sinal de maturidade e acima de tudo, de altruísmo social. Precisamos nos desvencilhar das amarras políticas e coronelistas que tanto destroem nossa sociedade. 

Precisamos escolher representantes que conheçam nossa realidade, que se preocupem com o bem comum, e acima de tudo, que não tenham como artifício da conquista, discursos fáceis e de impacto, única e exclusivamente com fins eleitoreiros. Esses candidatos, ancorados na maioria das vezes na força do dinheiro, têm a politica como um negócio, comercializando as vagas e assim, direcionando o que realmente vai ser discutido a bem próprio, distanciando-se dos reais anseios da população. 

Temos em nossas mãos a possibilidade de mudanças, como também podemos expressar nossos pensamentos e escolhas a partir do voto. Somos independentes e nossas vontades devem ser soberanas, portanto, não troquemos nossas liberdades de escolhas, nossos pensamentos e ideologias, pela escolha e imposição de quem defende o status quo. Somos cidadãos e cidadãs que sonham, que vibram e pensam e que acima de tudo, buscam mudanças positivas para nossa realidade. 

A festa da democracia está chegando. Passamos quatro anos discutindo mudanças, observando as diferentes variáveis e o que nossos representantes defenderam. Se já incorremos uma vez no erro, temos a possibilidade de modificar nosso destino mais uma vez, então, elejamos políticos comprometidos com o bem comum, com preocupação social e que não nos vejam apenas como moeda de troca nas mãos de políticos corruptos, mas sim, que sejamos vistos como verdadeiros cidadãos e cidadãs. 

A transformação está em nossas mãos. É hora de mostrarmos aos políticos profissionais, que também nos tornamos eleitores profissionais, no sentido de perceber as artimanhas que envolvem o submundo da política arcaica que antes era vista somente nos pequenos interiores, mas que agora tomou conta também dos grandes centros, ou melhor, que agora também lá vemos a partir da democratização da informação, com o incremento das redes sociais. 

Ipu/CE, 28/set/2018


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Sobre Dr Rárisson Ramon

Rárisson Ramon, de Ipu - CE de nascimento e criação, é acadêmico de direito, faz participações em rádio e é blogueiro.
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